Associação dos Magistrados do Estado de Goiás

Seja justa!

flavia-cristina-zuza Foto: Luciana Lombardi

Em artigo compartilhado em seu perfil no Facebook, a juíza Flávia Cristina Zuza, titular da 1ª Vara Cível e da Fazenda Pública Estadual de Luziânia (GO), comentou a entrevista da atriz goiana Glória Pires à Folha de São Paulo sobre a atuação dos juízes brasileiros. Em seu texto, a magistrada defende a classe da declaração proferida pela atriz de que "alguns juízes são irresponsáveis, não se colocam no lugar do outro".

Para Flávia Zuza a declaração da global foi injusta e feita sobre uma ótica distante da realidade dos fóruns e tribunais do País. "Os juízes brasileiros não vivem representando um roteiro de uma boa história de novela ou de cinema. Os magistrados vivem a dor de seu semelhante,  ao vivo e a cores, e muitas vezes tem tato e cheiro. Magistrados fazem audiência e nelas não há platéia para aplausos, mas se vê muitas vezes choros de dor, angústias de falta de amor, e esperança em solução pela caneta de um juiz", destacou.

Glória Pires interpreta a juíza da Vara de Família Andréa Pachá em “Segredos de Justiça”, que estreia dia 9 de outubro no programa Fantástico, da Rede Globo. A série é baseada no livro “A Vida Não É Justa”, em que a juíza Pachá relata sua experiência ao longo de 15 anos.

Leia a íntegra do artigo.

Seja justa!

Sou fã de Glória Pires, pelo conjunto de sua obra como artista brasileira da teledramaturgia. Vejo na beleza e na vaidade de Glória um paradigma para a mulher moderna. A família que construiu e o exemplo de pessoa bem sucedida são positivos para o povo brasileiro, em razão da sua dedicação, trabalho e talento.

No entanto, acabo de ler suas declarações sobre o seu último papel que representa na série "Segredos de Justica", da TV Globo, ao ser entrevistada pela jornalista Ligia Mesquita da Folha de São Paulo, e sobre isso não posso me calar. Afirmou Glória: "alguns juízes são irresponsáveis, não se colocam no lugar do outro." E ainda afirmou que a experiência da juíza Andrea Pacha está sendo retratada pelo Fantástico porque ela mostra "approach humano " por não se colocar acima dos outros. E ainda afirmou: "acho que os juízes na maioria das vezes, se colocam assim."

Pois bem. Me sinto injustamente julgada por tais declarações. Glória Pires julgou a maioria dos juízes brasileiros pelo que ela "acha"? ou seja, pelo que enxerga de sua experiência de vida, provavelmente distante dos Fóruns e Tribunais brasileiros. Nesse julgamento da Glorinha, como sempre me referi a ela na qualidade de fã,  inverto o meu papel. Defendo-me, assim como a magistratura brasileira, porque não estou acima de ninguém, apesar de ser necessário muitas vezes estar equidistante das partes. Entenda, o cargo que ocupo não me pertence.

Nenhum magistrado togado pode ser escolhido pelas partes. O magistrado somente pode ser recusado se houver motivos que comprometam a sua imparcialidade por suspeição ou impedimento legal. Os juízes brasileiros não vivem representando um roteiro de uma boa história de novela ou de cinema. Os magistrados vivem a dor de seu semelhante,  ao vivo e a cores, e muitas vezes tem tato e cheiro. Magistrados fazem audiência e nelas não há platéia para aplausos, mas se vê muitas vezes choros de dor, angústias de falta de amor, e esperança em solução pela caneta de um juiz.

Os magistrados são humanos e por óbvio podem errar, mas não são irresponsáveis. Os magistrados assumem a responsabilidade de todo erro cometido. Todo magistrado possui a régua imaginária da Justiça chamada consciência. Somos humanos. Todos magistrados, como é o meu caso há onze anos, que escolheram a Justiça como meio de trabalho, sabem que as angústias de um julgamento nos acompanham.

Muitos artistas fazem oficinas para a interpretação adequada de seu papel. Talvez tenha faltado para Glória Pires, nessa oportunidade tempo para isso. Faria diferença se adentrasse, em qualquer fórum desse país, especialmente aqui em Goiás, se sentasse um instante na cadeira dessa magistrada para ver as lágrimas de um inocente, a dor de uma perda de um filho assassinado, o choro de um órfão abandonado, a culpa de um condenado e ao final, olhasse no fundo dos meus olhos.

Saibam todos que acabam de ler esse desabafo que a impotência de todo ser humano diante das tragédias humanas passam aos olhos do julgador e tocam o seu coração todos os dias. Nesse momento, há milhares de  togas pretas que pesam os ombros dos magistrados brasileiros. Eu sei disso. Para Glória Pires faço um pedido: na vida ou na arte, SEJA JUSTA!

Fonte: Assessoria de Comunicação da ASMEGO | Ampli Comunicação (com informações da Folha de São Paulo)