O encerramento do Seminário República – Impasses da Democracia Brasileira será marcado pelo lançamento, no próximo dia 21, em Brasília, do livro da juíza Andréa Pachá, que trabalha no Rio de Janeiro e compõe a Diretoria Cultural da AMB. Intitulada Segredo de Justiça, a publicação é um complemento ao meu primeiro livro da magistrada, chamado A vida não é justa.
“São histórias de ficção, narradas a partir da observação dos muitos conflitos que assisti, durante 17 anos, como titular em uma Vara de Família. São histórias sensíveis, algumas tristes, outras bem-humoradas e que revelam a nossa dificuldade, como magistrados, para lidar com as expectativas de justiça no fim de um relacionamento”, diz Andréa.
Em entrevista à AMB, a juíza fala não só da publicação como da importância do Seminário República. De acordo com ela, a AMB é e sempre foi uma instituição catalizadora das grandes questões nacionais. “Discutir os princípios republicanos é afirmar que os magistrados estão comprometidos e integrados com as demais instituições na preservação da ética, da eficiência, das liberdades”, destaca.
O livro contém 46 crônicas inspiradas em histórias relatadas em seus quase 17 anos de atuação em Vara de Família. Que tipo de histórias estão relatadas e quais a senhora pode contar?
Segredo de Justiça é um complemento ao meu primeiro livro de ficção chamado A vida não é justa. São histórias de ficção, narradas a partir da observação dos muitos conflitos que assisti, durante 17 anos, como titular em uma Vara de Família.
Embora as tragédias e os dramas sejam repetidos, cada casal experimenta, individualmente, a experiência da dor intensa do fim do amor. São histórias sensíveis, algumas tristes, outras bem-humoradas e que revelam a nossa dificuldade, como magistrados, para lidar com as expectativas de justiça no fim de um relacionamento.
Rupturas surpreendentes, paixões avassaladoras, reencontros, conflitos de guarda, pensão, partilha, enfim, um material extremamente rico e humano e um espaço, na Justiça, onde quase todos os cidadãos, em algum momento da vida, se encontram.
Tratam-se casos de família reais ou fictícios? Qual o objetivo de expor essas histórias?
Todos os casos são ficção, embora a experiência da observação tenha sido preciosa para as crônicas. No fundo, somos todos personagens ou narradores das histórias que vivemos ou que observamos. Pirandello (Luigi Pirandello, dramaturgo, romancista e poeta siciliano) diz que somos todos quantos os que nos veem. Nada mais rico para a dramaturgia e para a literatura do que a densidade do afeto em um momento-limite.
Contar essas histórias foi uma maneira que encontrei de organizar minhas angústias, como juíza, para lidar com relações tão complexas. Antes da magistratura, eu trabalhei como roteirista e como produtora de teatro e esse foi também um caminho para reunir esses saberes que são essenciais para a afirmação da nossa humanidade.
A senhora relata casos bem-humorados e contados por outros colegas de profissão. Pode resumi-los?
Depois que lancei meu primeiro livro, colegas apareceram contando histórias inusitadas e que merecem ser reproduzidas.
Uma delas, especialmente divertida, veio de um colega amazonense e revela o abismo que há entre a linguagem que nós falamos e a linguagem que os nossos jurisdicionados compreendem.
Aliás, a AMB tem um belíssimo projeto de Simplificação da Linguagem Jurídica, que precisamos retomar. Nada melhor para nos aproximar da sociedade do que criar canais eficientes de compreensão.
Qual a importância do Seminário República promovido pela AMB?
A AMB é e sempre foi uma instituição catalizadora das grandes questões nacionais. O exercício da magistratura não deve se limitar a questões importantes da corporação, mas, acima de tudo, se ocupar de mecanismos que fortaleçam a democracia e a independência dos poderes, que são questões vitais para a cidadania.
Discutir os princípios republicanos é afirmar que os magistrados estão comprometidos e integrados com as demais instituições na preservação da ética, da eficiência, das liberdades.
Veja aqui mais informações sobre o Seminário República.
Fonte: AMB