Os magistrados goianos participantes desta primeira edição do curso O Magistrado e a Mídia, promovido pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam), estiveram hoje com especialistas em Comunicação e com profissionais de imprensa que atuam em veículos de Comunicação e órgãos do Poder Judiciário. Em pauta, a relação entre juízes e jornalistas e a importância da mediação, entre Judiciário e a sociedade, a cargo da imprensa.
De Goiás participam do curso o presidente da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (ASMEGO), juiz Gilmar Luiz Coelho; o vice-presidente da entidade, juiz Murilo Vieira de Faria; a diretora da Escola Superior da Magistratura do Estado de Goiás (ESMEG), juíza Maria Socorro de Sousa Afonso Silva; e ainda os magistrados André Reis Lacerda (diretor de Comunicação da ASMEGO), Thiago Soares Casteliano Lucena de Castro (coordenador de Marketing e Imagem da escola); Mateus Milhomem, Cristian Battaglia; e as juízas Stefane Fiúza Cançado Machado e Aline Vieira Tomás. No total, 20 magistrados brasileiros participam do curso.
Na abertura do trainamento, a ministra Eliana Calmon, diretora-geral da Enfam, enfatizou: "Temos obrigação de dar satisfação à sociedade. A notícia é o que o juiz julga, fala e faz." A diretora incentivou as escolas estaduais a serem multiplicadoras desta iniciativa, a fim de capacitar os magistrados para o diálogo com a população.
O primeiro painel teve como tema "O Magistrado como sujeito político e midiático" e contou com a participação, também, do desembargador federal Mairan Maia, diretor-geral da Escola da Magistratura do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, e o jornalista Rodrigo Haidar, do site Consultor Jurídico. Para o jornalista, o interesse da mídia com os assuntos da área jurídica decorre de uma atrofia do Legislativo e do Executivo, por um lado, e de um protagonismo do Judiciário. Ele citou como exemplo o posicionamento da Justiça em relação a temas como as cotas raciais, pesquisas com células-tronco, financiamento de campanha eleitoral, progressão de regime em casos de crimes hediondos, união homoafetiva, entre outros. "A Justiça enfrenta questões que envolvem a religião, a sociologia e a política. Isso reflete o interesse da imprensa pelo Poder Judiciário"afirmou.
Rodrigo Haidar listou algumas das dificuldades do jornalista na cobertura de temas do Judiciário, como a linguagem, a complexidade do sistema judicial e o acesso ao magistrado. Por outro lado, relacionou reclamações de juízes no trato com a imprensa: código de ética não permite o magistrado falar fora dos autos; o juiz não pode abordar temas sobre os quais poderá julgar; jornalistas distorcem falas; e erram muito ao escrever sobre o tema, são algumas delas. E deu dicas para se romper a barreira existente entre o juiz e a imprensa.
O desembargador Mairan Maia defendeu que seja exigida formação adequada dos profissionais que fazem a mediação do Judiciário com a imprensa. E citou, ainda, como positivo, o investimento na formação dos profissionais dos centros de comunicação social dos tribunais como multiplicadores na tarefa de capacitar magistrados para o diálogo com a mídia.
A mesa que abordou o tema “A indústria midiática brasileira” teve a participação do professor Luciano Martins Costa, coordenador do curso de Gestão das Mídias Digitais na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) e apresentador do programa de rádio “Observatório da Imprensa”. Participou também o professor Paulo José Cunha, da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB), que apresenta o programa “Comitê de Imprensa” na TV Câmara.
Na sequência, o curso promoveu uma discussão sobre como o magistrado pode utilizar a assessoria de comunicação de seu tribunal para aperfeiçoar suas aparições na mídia. A mesa teve a participação de Marcone Gonçalves, assessor de imprensa do Ministério da Justiça e ex-assessor do Conselho Nacional de Justiça; Adriana Jobim, assessora de imprensa do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, e Roberta Bastos, assessora de imprensa do Conselho da Justiça Federal. A discussão foi mediada pelo jornalista Armando Cardoso, secretário de Comunicação Social do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A última mesa de discussões do primeiro dia de curso foi sobre o fenômeno das redes sociais, enfatizando as vantagens e os perigos desse tipo de comunicação direta com o público. Participaram do debate os jornalistas Murilo Laureano Pinto, coordenador de Mídias Digitais da Secretaria de Comunicação Social do STJ, e Hélio Martins, do Núcleo Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Servidores da Justiça Federal em São Paulo (Nues/JFSP).
O curso O Magistrado e a Mídia inclui, além de uma série de mesas de debates, uma visita à sucursal da Rede Globo em Brasília e um circuito de atividades práticas que envolvem treinamento intensivo (media training) e oficinas de crise de imagem.