A juíza e diretora da ASMEGO Aline Tomás é uma das entrevistadas pelo portal Rota Jurídica
O portal Rota Jurídica aborda, em reportagem publicada hoje (8), o papel da mulher na carreira jurídica e entrevista a juíza diretora-adjunta de Comunicação da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (ASMEGO), Aline Vieira Tomás.
Leia a íntegra da reportagem
A advogada Ana Lúcia Amorim Boa Ventura observa que, certamente, há conquistas para comemorar. Ela cita como exemplo a Lei Maria da Penha e a aprovação pelo Senado Federal do Projeto de Lei que classifica como crime hediondo o feminicídio e o inclui como homicídio qualificado. “A mulher hoje tem voz ativa no mercado de trabalho e na política, mas precisamos avançar ainda mais”, diz. Segundo a profissional, os salários percebidos são menores e a violência contra a mulher é uma epidemia social, que requer uma postura firme das autoridades e de toda a sociedade no combate ao preconceito contra a mulher. “Estamos longe do ideal”, completa.
A história de Ana Lúcia é de persistência para conseguir, além de desempenhar os vários papéis de mulher, ser uma profissional com carreira sólida e reconhecida. Desde criança, Ana Lúcia sonhava em ser advogada. Ela era fascinada por livros policiais, de filosofia, aulas de história e português e nunca pensou em fazer outro curso que não fosse Direito. Ela tomou a decisão por vocação e, hoje, atua nas áreas de Direito Civil, Contratos, Direito do Trabalho, Direito do Consumidor, Inventários, Direito Médico e da Saúde.
No decorrer da carreira, enfrentou dificuldades para conciliar a profissão com a maternidade. Segundo ela, dividir o tempo entre o profissional e o pessoal requer jogo de cintura, apoio do esposo, paciência e renúncias. Mas, como a maioria das mulheres, como ela mesma explica, faz tudo isso de modo instintivo. E só consegue conciliar tudo por conta do apoio do esposo e dos filhos. “Vem da natureza feminina, mas requer muita dedicação e energia. Acordo muito cedo, levo meus filhos à escola e antes das 07h30 já estou no escritório. Durante o decorrer do dia me divido entre as tarefas de mãe, advogada e esposa, e não raramente tenho que sacrificar o final de semana com minha família para cumprimento de prazos, por exemplo”, conta.
A juíza de Direito Aline Vieira Tomás decidiu que iria ser magistrada aos seis anos de idade, quando assistiu a um júri simulado na escola. Dali para frente, essa foi uma certeza que levou até o instante do ingresso na faculdade de Direito e, posteriormente, quando se inscreveu em seu primeiro concurso público, em que foi aprovada. Aline iniciou a carreira em Goiás aos 25 anos de idade, em setembro de 2005, e hoje atua na Vara de Família e Sucessões.
No início de sua atuação, por ser mulher e jovem, segundo conta, enfrentou algumas dificuldades. Ela diz que, ao entrar em um gabinete para conversar com a pessoa que tem sua vida nas mãos e se deparar com uma jovem do sexo feminino, causava uma reação imediata de insegurança na maioria das pessoas. “Mas com o passar desses dez anos de carreira, minhas decisões e meu modo de agir foram demonstrando que o fato de ser mulher não influencia na prestação jurisdicional que entrego à sociedade todos os dias”, diz.
Para Aline, muitas conquistas devem ser comemoradas nesse Dia Internacional da Mulher, sendo que uma das principais é a crescente colocação nos melhores postos de trabalho, a exemplo de mulheres CEOs de grandes empresas, ministras, desembargadoras e outros grandes cargos. Ela observa que, embora contrária à visão sexista que ainda predomina nas discussões em geral, em um curto espaço de tempo, as mulheres conseguiram ocupar espaços que antes eram muito restritos ou até exclusivos ao sexo masculino, cujo maior exemplo é ter uma mulher como presidente do País.
A juíza salienta que as mulheres têm conseguido comprovar competência e excelência nas atividades que desempenham, características essas que permitem que elas alcancem cada vez mais postos de trabalho e remuneração semelhantes aos do sexo masculino. “Isso porque, embora estejamos em constante conquista de espaços, ainda não podemos afirmar que haja uma equiparação entre homens e mulheres nas atividades profissionais”, observa.
Magistradas
A juíza de Direito salienta que as mulheres magistradas conquistam cada vez mais espaço nos tribunais do País. Aline lembra que, há poucos anos, os tribunais superiores sequer tinham mulheres em sua composição. Atualmente, elas já ocupam algumas vagas, embora ainda em menor número que os homens. O Supremo Tribunal Federal (STF) conta hoje com duas ministras, o que representa um quinto da composição. “Esta realidade já é um avanço comparando com poucos anos atrás, quando o STF era formado exclusivamente por homens. Para o futuro, a expansão feminina nos tribunais tende a ser certa, uma vez que nos concursos públicos recentes, observa-se uma maciça aprovação de mulheres e poucos homens”, ressalta.
Papel da mulher ainda não está claro para a sociedade
A advogada Luciana Maciel, que atua na área de Direito de Família, acredita que o Dia Internacional da Mulher tem uma comemoração muito válida, que é a ruptura de um paradigma opressor. Mas, em sua opinião, ainda não está claro para a sociedade o verdadeiro papel da mulher. A profissional diz que as mulheres têm sim a comemorar, mas sua preocupação é com os estereótipos que são lançados nas proximidades dessa data.
Luciana lembra que, durante um longo período, as mulheres foram “futilizadas” pela mídia, pelas campanhas publicitárias, pelo machismo da época, etc. Para vencer essa barreira, foi buscada a igualdade com os homens e negada qualquer imagem de fragilidade feminina. Ambas as abordagens não condizem com o que as mulheres realmente são. “As mulheres são, por natureza, diferentes dos homens e precisam ser respeitadas e valorizadas com base nessa diferença. Entendo que o próximo passo é tentarmos igualar a valorização da mulher à valorização masculina, mas nunca igualar homens e mulheres porque isso sim será impossível”, diz.
Quanto ao espaço conquistado pelas mulheres, a advogada lembra que o Direito reflete o restante das profissões brasileiras. Segundo diz, infelizmente, as mulheres que alcançam algum destaque na profissão normalmente tiveram um caminho muito mais árduo e cheio de dúvidas do que os homens na mesma condição. Provavelmente, tiveram remunerações mais baixas também. A advogada ressalta que costuma-se dizer que a mulher precisa provar em dobro a sua competência e ela acredito que isso seja verdade.
“É possível ver pela própria representação de classe na Ordem dos Advogados do Brasil que as mulheres ainda não têm o mesmo reconhecimento que os homens. Mas no Direito de Família contemporâneo, pelos próprios ideais que defende, as mulheres estão devidamente representadas, respeitadas e acima de tudo atuantes”, declara.
A advogada observa que, na construção de sua carreira ela tive a vantagem de ter o marido como um grande parceiro e incentivador. Ambos são advogados e trabalham juntos, embora com áreas de atuação distintas. Em relação à discriminação por ser mulher, Luciana diz que seria hipocrisia dizer que ela não existe em um primeiro momento. “Mas, felizmente, não tive grandes problemas com isso e sempre tive o privilégio de trabalhar com pessoas fantásticas, humanas e que valorizam o trabalho e as pessoas”, conta.
A escolha
Quando adolescente, o Direito não era minha a primeira opção Luciana, ela queria ser psicóloga. Todavia, por uma série de fatores pessoais, foi levada a prestar vestibular para bacharelado em Direito e, posteriormente, tudo aconteceu tão naturalmente que se tornou inevitável o encantamento pela área jurídica e, finalmente, pela advocacia. Em 2008, ela iniciou sua segunda especialização, a primeira em uma área específica e escolheu o Direito de Família, que me permite que ela ajude os outros e tente ser um agente transformador, como pensava que seria como psicóloga. “Atuo com ênfase nessa área desde então e tenho um grande prazer pelo trabalho que exerço, porque a advocacia de família não é apenas um litígio, mas uma gestão de amores e mágoas que precisa ser feita com cautela e responsabilidade”, completa.
Fonte: Rota Jurídica