A última tarde do Simpósio Internacional para Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, realizado em Goiânia nesta segunda e terça-feiras contou com cinco palestrantes para finalizar as discussões. Os painéis foram Persecução de Casos de Tráfico de Pessoas: Panorama das Ações de Repressão e Responsabilização das Cadeias Criminosas e Novos Contextos Migratórios e o Tráfico de Pessoas: Redes de Tráfico, Principais Mecanismos de Denúncia e Canais de Apoio.
Jefferson Aparecido Dias, procurador regional dos Direitos Humanos de São Paulo, explicou as etapas do tráfico onde os mediadores se fazem passar por agentes de modelo e enganam as vítimas. Citou também a situação dos bolivianos que fazem trabalho escravo em oficinas de costura no Brasil. Para Jefferson, o problema surge quando não consta nos autos algo que comprove que as viagens são para trabalhos escravos ou sexuais.
Trazendo dados e planos para o enfrentamento do tráfico, Moisés Dionísio, da Divisão de Combate ao Crime da Polícia Rodoviária Federal, e Delano Cerqueira, representante da Diretoria de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, detalharam o que vem sendo feito para capturar os traficantes. De acordo com Moisés, são realizadas ações de rotina, integradas, educativas, acordos e convênios e a cada dois anos é feito o mapeamento dos pontos vulneráveis para tráfico de pessoas. Para ele, é difícil identificar os casos de tráfico já que as pessoas são acusadas por outros crimes, como remoção de órgãos, exploração sexual ou adoção ilegal. Delano citou o caso da operação Dama de Ouro, na Guiana Inglesa, na qual 35 mulheres foram traficadas e seis acusados foram presos.
O procurador do Ministério Público do Trabalho da Paraíba, Eduardo Varandas, chamou atenção do público quando iniciou sua palestra com a pergunta: “Onde estão os movimentos sociais?” Em seguida foi apresentado o depoimento de um travesti traficado em Milão que falava das condições sub-humanas que tinha que viver. Eduardo levantou questões perigosas ao exbir um texto sobre o STJ quando disse que não era crime pagar por sexo com adolescentes e também ao dizer que a sociedade não pode ficar esperando soluções, mas que deve exigir e cobrar melhorias para o combate ao tráfico de pessoas. Para encerrar, o procurador citou uma frase de Cora Coralina: Nada que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas.
Maria Luiza Moura, do Comité Latino-Americano del Observatório Latino-Americano sobre Trata e Trafico de Personas, foi a última palestrante do simpósio. Discutiu a transformação de homens, mulheres, jovens, homossexuais e travestis em objetos de consumo. Segundo ela, a situação cresce diariamente e a América Latina só está atrás da Ásia em relação à quantidade de casos. Maria Luiza fez referência também à frase de Millôr Fernandes que diz: enquanto metade do mundo passa fome a outra metade faz regime. No final de sua apresentação, fotos de congressos sobre tráfico de pessoas foram exibidas ao som de Elis Regina – Gracias a la Vida.
Encerramento
Antes que a carta do simpósio fosse lida, houve o depoimento emocionante e emocionado de João José Felipe, pai de Simone Borges, vítima de tráfico de pessoas na Espanha. João falou das cartas que sua filha enviava, contando sobre a situação em que vivia com prostituição, fome e desprezo. Simone foi uma das primeiras vítimas que teve coragem de denunciar o tráfico mas não conseguiu ajuda antes de morrer. Segundo relatos de João, ao saber que havia sido denunciado, o traficante provocou overdose em Simone e a abandonou na rua. Com auxílio de quem passava pelo local, a vítima foi levada a um hospital onde morreu com suspeita de tuberculose. O pai detalhou o sofrimento que passou no Brasil procurando por parceiros que pudessem ajudar a trazer o corpo de sua filha para que fosse enterrado dignamente. Mesmo com lágrimas nos olhos, João cantou um trecho de música que compôs após a morte de Simone, comovendo a todos que assistiam.
Na sequência, o juiz Rinaldo Aparecido Barros, coordenador científico do simpósio, fez agradecimentos a todos os parceiros, palestrantes e inscritos. Ressaltou ainda a importância do trabalho realizado para combater este crime e recitou “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, frase de Fernando Pessoa. Segundo o juiz, se todo o esforço para realizar o simpósio valer para salvar a vida de pelo menos uma pessoa, não terá sido em vão. Em seguida foi feita a leitura da carta do simpósio que trata do comprometimento e das intenções para tornar mais eficaz o combate ao tráfico de pessoas. O magistrado ressalta que a carta não foi finalizada e quem quiser contribuir com sua composição poderá enviar sugestões para o e-mail