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Especialistas discutem Modelo de Protocolo para Combate do Feminicídio na América Latina

Especialistas da América Latina se reúnem esta semana no Brasil para discutir um problema que segue desafiando autoridades no mundo todo: o assassinato de mulheres por razão de gênero, ou seja, pelo fato de serem mulheres. A oficina de trabalho está sendo organizada pela Federação de Associações de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da Espanha e conta com o apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM/PR). O evento, que acontece em Brasília, no Hotel Mercure Eixo, terá início nesta terça-feira, 29 de janeiro, com duração de três dias.


A violência contra as mulheres constitui uma forma de discriminação e uma violação grave dos seus direitos humanos, condenada pelo Direito Internacional. Esses atos violentos adquirem maior gravidade e exigem uma atividade mais atenta e específica da comunidade internacional. Neste sentido, a violência mais grave e extrema contra a mulher por razão de gênero, que ocorre quando resulta em sua morte ou apresenta grave risco para ela, se define como feminicídio/femicídio. Ambos termos são utilizados pela comunidade acadêmica.


Em relação a esta problemática, está sendo elaborado um projeto promovido pela sociedade civil para a criação de um Modelo de Protocolo sobre a erradicação, investigação e documentação do crime de feminicídio na América Latina, que possa ser discutido e apresentado primeiro em âmbito latino-americano, sem descartar posteriormente a apresentação como possível padrão universal.


Tal projeto é coordenado pela Federação de Associações de Direitos Humanos da Espanha e pela Universidade Carlos III de Madri. Este Modelo de Protocolo conta ainda com o apoio de ONU Mulheres, do Escritório do Alto Comissionado de Direitos Humanos da ONU e do Escritório de Direitos Humanos do Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha.


O objetivo é criar um Modelo de Protocolo de investigação que tente por fim à impunidade deste tipo de delito. O Protocolo será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, com o consenso da sociedade civil de diferentes países, para que tenha caráter de recomendação.


A oficina em Brasília reunirá mais de 25 especialistas de vários países, principalmente do Cone Sul. Entre os integrantes do Brasil participam a Dra. Adriana Ramos de Mello, Juíza Titular do I Juizado de Violência Doméstica do Rio de Janeiro, Ela Wiecko V. Castilho, Procuradora Geral da República, e Joana Chagas, Oficial Nacional de Programas da ONU Mulheres Brasil e Cone Sul. O Dr. Juan Manuel Cartagena, um dos médicos forenses mais respeitados na Espanha e na América Latina, também fará parte da oficina.


A cerimônia de abertura contará com a presença da Secretária Executiva da SPM, Lourdes Maria Bandeira, Nelson Calandra, presidente da Associação de Magistrados Brasileiros (AMB) e Carla Patiño, diretora de Proteção dos Direitos Humanos do Equador. Emilio Ginés, presidente da Federação de Direitos Humanos e membro do Subcomitê de Prevenção da Tortura das Nações Unidas, dará largada ao evento com uma conferência sobre as bases do modelo de protocolo para a harmonização de investigações do feminicídio na América Latina.


A longo prazo, este Modelo de Protocolo pretende capacitar os agentes de polícia, juízes, magistrados, promotores, investigadores e todos os membros da sociedade civil comprometidos com a proteção dos direitos da mulher.


Dentro do marco deste projeto, foram realizadas reuniões e oficinas de trabalho em Madri em 2011; no Panamá, em junho de 2012; e em Antigua, na Guatemala, em setembro de 2012. Um dos objetivos da próxima oficina de trabalho em Brasília é reunir especialistas do Mercosul e associados para tratar os problemas da região de forma específica. Para recolher as contribuições dos especialistas e desenvolver este evento no Brasil foram firmados acordos com o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), um dos mais importantes da América Latina, e também com a Ordem de Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ).


As contribuições desta oficina e dos encontros realizados anteriormente serão apresentadas durante a 57a Sessão da Comissão da Condição Jurídica e Social da Mulher (CSW), na sede da ONU em Nova York, em março de 2013.