Associação dos Magistrados do Estado de Goiás

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Juiz da Infância e Juventude fala sobre Campanha Mude um Destino

Em entrevista concedida à Assessoria de Imprensa da Asmego, o juiz da Infância e Juventude de Goiânia, Maurício Porfírio Rosa, fala sobre a realidade da adoção na Capital e a relevância de campanhas como a "Mude um Destino", que a Asmego e a AMB irão lançar em Goiás no próximo dia 30.


 

Imprensa Asmego: Qual a relevância de campanhas como a "Mude um Destino" ?


Maurício Porfírio: Vista sob a dimensão de política pública, essa campanha é de extrema importância para a construção do futuro deste país. Precisamos tirar as crianças dos abrigos e garantir-lhes o direito fundamental, previsto na constituição, de ter uma família. Não existe nada mais importante do que isso para a criança e o adolescente. Um abrigo, por melhor que seja, não oferece condições para formar um ser humano dentro dos parâmetros normais. A pessoa humana é a resultante das oportunidades que tem e das escolhas que faz. Que oportunidade tem uma criança dentro de um abrigo? Ali falta individualidade, intimidade, mas, fundamentalmente, falta amor, falta o calor que só uma família pode dar.


A: Qual a importância de realizar a adoção de forma legal, através do Poder Judiciário?


MP: Precisamos não somente aumentar o numero de adoções, mas trabalhar para que elas sejam feitas da forma menos traumática possível, de forma legal. Ao realizarmos a adoção legal, combatemos de frente a violência, porque a criança que não tem carinho e afeto na família, é uma criança sujeita a ser inserida num processo violento.


A: Quais resultados práticos são esperados de campanhas como essa?


MP: Nós precisamos deixar de buscar satisfações imediatas, ou respostas imediatas para os nossos questionamentos. A questão da adoção envolve um paradigma cultural. Precisamos levar à sociedade conhecimento dos problemas que dizem respeito à adoção. Permitir que as pessoas conheçam essa situação para que, no futuro, possamos reverter a idéia de que "se a criança está num abrigo bonitinho, arrumadinho, está resolvido". Precisamos alertar a sociedade para a necessidade de nos preocuparmos com a formação dessa criança. Mas isso é um processo, e não algo imediato.


A: Quais problemas estão relacionados ao processo de adoção?


MP: Os principais problemas são culturais. Por exemplo, eu tenho mais de 500 pessoas em Goiânia habilitadas para adotar uma criança, mas essas pessoas quererem adotar crianças brancas e recém-nascidas e nós não temos esse perfil de criança. Então, a família fica esperando uma criança que não vem, enquanto outras crianças estão nos abrigos sofrendo com o desejo de ter uma família. O projeto "Anjo da Guarda", do Juizado da Infância e Juventude de Goiânia, é uma iniciativa que visa mudar essa realidade. O projeto conduz crianças de abrigos, maiores de cinco anos, para passassem um tempo com famílias cadastradas no projeto. O objetivo é despertar uma afetividade entre as crianças e as famílias, que possa resultar em uma adoção. Felizmente, o projeto tem conseguido resultados salutares.


A: A sociedade tem desenvolvido uma visão mais compreensiva em relação à adoção nos últimos anos?


MP: Quando eu cheguei em Goiânia, em 2000, tínhamos cerca de 600 crianças vivendo em abrigos e uma média de 40 adoções por ano. Hoje, existem cerca de 300 crianças em abrigos e em torno de 100 adoções por ano. Atualmente, mais crianças acima de 5 anos estão sendo adotadas. Isso é resultado do trabalho que vem sendo realizado pelo Juizado da Infância e Juventude de Goiânia e das políticas publicas que foram implementadas ao longo desses anos, que se traduziram em programas de distribuição de renda e de inclusão na escola. Tudo isso possibilitou um quadro de melhorias significativas.