Associação dos Magistrados do Estado de Goiás

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Menino que era engraxate, hoje é juiz de Direito; confira a história do magistrado Heber Carlos de Oliveira



Um engraxate pode ser juiz de Direito. É o que mostra a história do juiz Heber Carlos de Oliveira. Filho de carroceiro e lavadeira, a vida do magistrado é mais um exemplo da origem plural da Magistratura goiana. Tendo como exemplo a superação de seu irmão, o juiz substituto em 2º grau do TJGO, José Carlos de Oliveira, a trajetória de Heber Carlos é marcada por conquistas que resultam de seu esforço e dedicação ao estudo e ao trabalho. O relato do magistrado é o quarto a integrar a campanha da ASMEGO Juiz Cidadão - Do Berço à Toga, que por meio de histórias reais informa que o acesso à carreira é via concurso público: ferramenta democrática e isonômica, que garante a todos a possibilidade de ingresso por meio do estudo e da moral ilibada. Saiba mais.

"Esse meu depoimento de vida é para mostrar que as adversidades não são barreiras intransponíveis, pelo contrário, elas podem ser um incentivo para que se vença na vida", afirma o juiz Heber Carlos. No relato, o magistrado mostra que mesmo diante da realidade difícil, os pais tiveram a condição de transmitir aos seus filhos valores e preceitos éticos que são pré-requisito para o exercício da Magistratura. Confira a íntegra abaixo.

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Relato de vida do juiz Heber Carlos de Oliveira

Nasci em Jataí, em 1966, em uma família muito humilde. Meu pai era carroceiro, trabalhava entregando pães para a padaria local e com fretes, em geral. Minha mãe era lavadeira e costureira. Os dois, José Francisco de Oliveira e Benvinda Rodrigues de Oliveira, foram guerreiros que lutaram para que seus três filhos tivessem curso superior e essa conquista foi cumprida com louvor.Somos todos graduados: dois juízes e, a minha irmã, formou-se na área da Educação. Não os tenho mais comigo, só no coração e no sentimento: meu pai se foi aos 90 anos, em 2008, e minha mãe em 2010.

Foi o incentivo deles e ações deles que mudaram nossa perspectiva. Em 1969, minha família saiu de Jataí e veio para Goiânia, permitindo que nós tivéssemos mais acesso ao estudo. Na capital, meu pai continuou com essa vida difícil, trabalhando como carroceiro. Com muito sacrifício, ele conseguiu pagar uma escola de madres, chamada Instituto Rainha da Paz, onde eu concluí o antigo primário. Depois, cursei o ginásio na rede pública, no Colégio Estadual Dom Abel, pois não havia a menor condição de pagar um colégio particular nesse período.

Já nessa época eu trabalhava como engraxate. Ainda no ginásio, aos 14 anos, fui aprovado numa seleção de um projeto social, nos moldes do Menor Aprendiz, que selecionava jovens da periferia para trabalhar como office boy no Banco do Brasil. Com menos de 15 anos, meu salário já era maior que os rendimentos do meu pai. Então, eu ajudava em casa com pagamento de contas de água e luz, muito jovem. Essa precocidade acabou refletindo na minha vida e com 19 anos me casei. Um pouco antes, montei um pit dog já que pude ficar no banco somente até a maioridade. Eu mesmo que fazia o sanduíche, atendia os clientes e administrava. Era uma luta diária. Nesse período, trabalhava em um banco particular durante o dia e na sanduicheria à noite. Então, resolvi prestar concurso público para retornar ao Banco do Brasil. Mais uma vez, por mérito próprio, fui aprovado e voltei à instituição.

Então, deixei o pit dog. Nesse período o meu irmão, José Carlos de Oliveira, que já era juiz de Direito, foi o grande incentivador para que eu fizesse um curso superior. Com tantas responsabilidades, este era um caminho que eu já havia deixado adormecido, mas que graças ao incentivo fraternal resgatei essa pretensão. Mesmo sem cursinho preparatório, passei no vestibular da Universidade Federal de Goiás (UFG) para Direito, matutino, que historicamente detém um dos vestibulares mais concorridos de Goiás. Assim que entrei na faculdade, meu filho mais velho nasceu. Eu tinha 19 anos.

Entrei na faculdade pelo espelho do meu irmão e despertei a vontade de ser juiz durante o curso. E daí para frente eu não só estudava para as provas regulares como também já me preparava para o Concurso para a Magistratura do Estado de Goiás. Cheguei à conclusão que em um concurso tão concorrido, o maior adversário é você mesmo e é o grande obstáculo a ser batido. Então, é preciso estudar com muito afinco e dedicação. Colei grau em 1991. Estudei por conta própria e, primeiramente, fui aprovado no certame para promotor de Justiça. Assumiria o cargo em janeiro de 1992, mas optei por não tomar posse, pois estava focado em ser magistrado. Neste mesmo ano, fui aprovado no concurso para juiz e tomei posse, com a minha turma, em 14 de janeiro de 1993.

Hoje, como professor, digo aos meus alunos: "para ser aprovado tem que estudar o máximo possível". É levantar mais cedo, dormir mais tarde, estudar nas férias e feriados, levar um livro consigo onde quer que vá. Esse meu depoimento de vida é para mostrar que as adversidades não são barreiras intransponíveis, pelo contrário, elas podem ser um incentivo para que se vença na vida.

Após a posse fui para a comarca de Piranhas, onde atuei até 1995. De lá fui, removido para Jandaia, local em que fiquei  até 1996. Em seguida, trabalhei em Mineiros até 1999. Fui para Paraúna, onde atuei até o ano 2000, quando vim para Aparecida de Goiânia, para o 1º Juizado Cível, onde estou ainda hoje.

Com a experiência de 24 anos de Magistratura, posso dizer que a responsabilidade de decidir é um peso que nós, juízes, carregamos; mas sempre com o objetivo de acertar, de poder ser um instrumento para facilitar a vida das pessoas. Meus pais eram pobres financeiramente, contudo tiveram a condição de transmitir para os seus filhos valores e preceitos éticos e isso me permite ser um juiz correto nas minhas atribuições. É um dever que tenho perante a mim mesmo, meus filhos, minha família e, certamente, perante a sociedade. Então, o magistrado tem essa possibilidade de decidir e permitir que a vida das pessoas tome um novo rumo. Esse é o papel do juiz: ser um verdadeiro pacificador social.

 Heber Carlos de Oliveira, juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO)

Fonte: Assessoria de Comunicação da ASMEGO | Mediato Multiagência