A unidade prisional de Águas Lindas de Goiás passou a contar, a partir desta terça-feira (24), com duas salas de aula e uma biblioteca, graças a parceria do Poder Judiciário local com o Ministério Público (MP) e prefeitura. Durante a inauguração das estruturas foi lançado, ainda, o Projeto Reeducação Básica Reapreendendo a Escrever.
A juíza Claúdia de Andrade Freitas, da 1ª Vara Criminal de Águas Lindas de Goiás, destacou que a iniciativa abre um novo caminho aos homens que ali se encontram presos e é uma oportunidade de ressocialização por meio da educação, além de um estímulo à recuperação dos presidiários. "A educação é a principal ferramenta para mobilidade social. É também um mecanismo efetivo para reintegrar ou reabilitar os detentos", ressaltou.
De acordo com a magistrada, pesquisas apontam que 80% dos presos que saem dos presídios reicidem no crime e, na sua opinião, isso ocorre por falta de oportunidade de reintegração na sociedade. Claúdia acredita que o projeto pode mudar a vida dos cidadãos reclusos porque "a educação é capaz de criar a consciência e fazer com que o carcerário se comprometa com a mudança da sua história".
O prefeito de Águas Lindas de Goiás, Osmarildo Alves de Sousa salientou que a cadeia não pode ser o que ele chamou de "depósito de pessoas". "Somos os responsáveis por mudar este quadro e proporcionar os meios necessários para que o detento seja reintegrado à sua família e à sociedade. Este é o fruto de um trabalho em conjunto, aqui está mais uma importante ação de no processo de ressocialização”, destacou.
Segundo Adriano Augusto de Andrade, diretor da unidade prisional, dos 76 detentos sentenciados, todos estudam na extenção escolar EJA. Ela lembrou, ainda, que as salas de aula e a biblioteca foram contruídas com recursos do Conselho da Comunidade e com a apoio da Prefeitura e das secretarias municipal e estadual de Educação. Além disso, ele frisou que os próprios detentos construíram, pintaram o novo local e catalogaram todos os 1,6 mil da biblioteca, todos doados.
Exemplo
As novas estruturas permitirão a incursão do sentenciado Delvair Freito dos Santos no mundo dos livros. Por trás das grades e do olhar contido, ele conta sua história de superação. Condenado a 39 anos de prisão, o rapaz já cumpriu 11 em regime fechado. O período que passou na cadeia foi dedicado ao conhecimento. Durante esse tempo, ele já leu 150 livros e escreveu 3. Embora já tenha um pouco de conhecimento, Devair não achou suficiente e, juntamente com os outros 75 presos, estuda na cadeia.
Apesar da boa experiência, Delvair conta que ele e seus colegas precisaram de muita dedicação para superar as dificuldades. "Na prisão é muito fácil se perder. É necessário ter muita vontade para ter outra vida e, quando a gente tem uma chance aqui dentro, não podemos perder. Quando eu sair daqui, vou me formar em Direito e mostrar para as pessoas que sou um ressocializado", afirmou.
Para o professor Robson Dias, não há resistência por parte dos alunos e trabalhar com eles é um novo aprendizado. "São pessoas que não tiveram oportunidade no passsado e hoje, só depois de passarem por um conflito, estão tendo. Aqui, mesmo presos, eles são livres porque podem pensar, estudar e ler à vontade", finalizou.
Também particparam do evento o juiz Paulo César Alves das Neves, coordenador do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do TJGO; juiz Luíz Flavio Cunha Navarro, diretor do Foro de Águas Lindas de Goiás; a promotara Tânia D'Able Rocha Bandeira; o secretário Edemundo Dias de Oliveira Filho; o vice prefeito, Luiz Alberto de Oliveira, entre outras autoridades estaduais e municipais.