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Por amor à magistratura, juiz recusa proposta para receber 6 vezes mais em cartório do interior de Goiás



Juiz Thulio Marco Miranda, de Senador Canedo: opção pela magistratura Juiz Thulio Marco Miranda, de Senador Canedo: opção pela magistratura

Aprovado em concurso, magistrado decidiu não abandonar a carreira. Ser juiz sempre foi o sonho da vida de Thulio Marco Miranda


Valores como R$ 114,6 mil, R$ 120 mil mensais são salários que, sem dúvida alguma, mexem com a cabeça de qualquer trabalhador, independente da função. Aliás, até mexeram com a do juiz Thulio Marco Miranda, que, por amor à magistratura, decidiu abrir mão de ganhos muito superiores aos atuais para permanecer no cargo de magistrado, na 2ª Vara de Senador Canedo.


Aprovado em concurso, o magistrado participou da sessão de escolhas das serventias extrajudiciais do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, na semana passada. Quando chegou a sua vez de fazer a opção por qual cartório atuar, teve, à sua frente, propostas tentadoras. No 2º Tabelionato de Notas de Luziânia, os rendimentos mensais brutos alcançavam a casa dos R$ 120.000,00 mensais. Já no 1º Tabelionato de Notas de Jataí, cerca de R$ 114.650,00. “Talvez não seja tanto, se comparados aos salários de jogadores de futebol e apresentadores de TV, mas, para mim, um juiz de Direito, é muito, cerca de 6 vezes mais do que eu ganho”, revelou a colegas de profissão.


“Poderia ganhar mais, viver melhor, dar um conforto maior a minha família. Mas, naquele momento, para mim, foi mais forte a decisão de continuar na magistratura. Pensei em como seria difícil largar a toga”, diz.


A proposta e o amor


Na verdade, na classificação obtida pelo juiz Thulio Marco Miranda no concurso, as faixas salarias giram em torno de R$ 60 mil - que ele, inclusive, também já estava decidido a não aceitar. “O valor já era superior ao que ganho na magistratura, mas eu acho que não compensaria de forma alguma”, afirma o magistrado. Entretanto, diante de outras recusas, os valores oferecidos a ele foram subindo e os cartórios passaram a oferecer cerca de 120 mil, em média.


“Isso mexeu comigo porque, na magistratura, a gente jamais vai alcançar esse valor por mês e em outras profissões públicas também não. Fiquei com certa dúvida”, lembra. “Juntei forças naquele momento apenas para dizer que amava a minha profissão e não me via fazendo outra coisa na vida. Renunciei à escolha de qualquer cartório em troca da felicidade de ser magistrado”, finaliza.


Apoio de colegas


A decisão do juiz rendeu elogios por parte de colegas. “Eu achei que o colega demonstrou todo seu amor à magistratura. Está de parabéns. E não é qualquer pessoa que faria a mesma escolha. Demonstra que ele, realmente, é um magistrado com vocação para a profissão”, disse o juiz Gilmar Luiz Coelho, presidente da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (ASMEGO). “Meus parabéns, Thulio Marco Miranda! Sua atitude foi corajosa e exemplar”, comentou o juiz Thiago Inácio, da comarca de Niquelândia, em mensagem ao colega.


“A magistratura deve ser muito mais do que um ganha-pão. O espírito de juiz deve estar dentro de cada um (ou tem ou não tem esse espírito). Parabéns ao colega Thulio, a quem eu desejo todo sucesso e felicidade no caminho escolhido. O que importa é a certeza do dever cumprido que brota de sua consciência”, disse o juiz Altair Guerra da Costa, da comarca de Goiânia.


Para o juiz Reinaldo de Oliveira Dutra, da comarca de Acreúna, a decisão do colega é motivo de orgulho. “Orgulho por pertencer a uma carreira composta de juízes por vocação e dispostos a lutar para que o Poder Judiciário tenha o reconhecimento que merece. De forma corajosa e, diria, emocionante, o juiz Thulio escolheu a toga. O exercício da magistratura é, de fato, um sacerdócio”, diz.


Sem arrependimento


Ainda na emoção e certeza de ter tomado a decisão correta, de acordo com o juiz Thulio Marco Miranda, mesmo no futuro, não haverá arrependimento por ele ter permanecido na magistratura. “O que mais me conforta hoje é saber que certas coisas na vida não têm preço. Nesse ponto, tenho a dizer que sou rico. Acho que eu não saberia conviver com o enorme peso de deixar a toga e um sonho antigo de tentar fazer justiça em prol de um mundo melhor”, conclui.


A carreira


O magistrado Thulio Marco Miranda, ainda com 19 anos, foi aprovado no concurso para escrevente do judiciário, na comarca de Goiânia. Na época, ele já estava na faculdade de Direito. Ficou quatro anos no cargo. Foi técnico da Justiça Eleitoral, advogado da Caixa Econômica Federal e sempre considerou difícil conciliar o trabalho com os estudos.


“Quando era possível, eu estudava e não me sentia realizado nessas profissões. Eu queria ser magistrado. Consegui, primeiro, aprovação no Mato Grosso do Sul, onde fiquei dois anos. Mas, depois, tive a oportunidade de ser aprovado no meu estado também, em Goiás. Há mais de três anos estou aqui”, revela.



Conselho

Aos juízes mais novos, o magistrado orienta: “O conselho que dou é trabalhar com dedicação, não se deixar levar pelos benefícios que o cargo pode dar. Façam as coisas corretamente, julgando com serenidade. Eu estou bastante satisfeito. Não me arrependo. E vocês também não vão se arrepender”.


Fonte: Assessoria de Comunicação ASMEGO. Texto: jornalista Victor Hugo de Araújo