Diante de um ginásio lotado, o horticultor Ilmo Doerings, de 49 anos, recebeu o prêmio de segundo colocado do concurso de redação sobre o tema Quem merece o meu voto? Seu Ilmo, como é chamado pelos colegas de classe, é aluno do 8° ano do ensino fundamental da rede pública de Caiapônia e teve a oportunidade de voltar a estudar depois de 30 anos. “Nunca é tarde para recomeçar. Parei de estudar porque tive que trabalhar e hoje fui recompensado por meu esforço”, falou emocionado. “É uma satisfação e alegria que não tem como explicar”, finalizou.
Satisfação que estava estampada nos olhos de Maria Regina de Lima Couto, mãe de Daniela Couto, 12 anos e que cursa o 8° ano do ensino fundamental da Escola Gercina Borges Teixeira. “Ela sempre foi uma excelente filha, mas a cada dia está se dedicando ainda mais aos estudos”,disse Maria. “Ela chega em casa e me explica tudo, fala o que está certo ou não. É a demonstração clara de que a Justiça está indo até a nossa casa”, completou. Seu Ilmo e Daniela estavam entre os dois mil alunos de escolas públicas que participaram, nesta sexta-feira (6), da festa de encerramento do projeto A justiça Vai à Escola nas Eleições 2012, desenvolvido pelo juiz Thiago Soares Castelliano Lucena de Castro em Caiapônia, município distante 330 quilômetros de Goiânia.
“O programa foi um sucesso. É muito bom ver o envolvimento de toda a comunidade”, destacou Thiago Castelliano, ao agradecer os apoiadores que puderam tornar o projeto possível. De acordo com o magistrado, de março a setembro, foram realizadas 17 visitas em todas as oitos escolas municipais e estaduais de Caiapônia. Thiago fez um balanço positivo da ação, que está em sua segunda edição e ampliou o número de alunos e de escolas atendidas. “Aprendo com os alunos e com a história de vida de cada um. Sei que o magistrado tem uma quantidade muito grande de trabalho, mas é preciso dedicar apenas uma hora do seu dia para projetos como estes. A alegria que isso aqui dá é enorme”, afirmou.
O juiz-auxiliar da Presidência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), Donizete Martins de Oliveira, que na solenidade representou o presidente do TJGO, desembargador Leobino Valente Chaves e o presidente da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego), Gilmar Luiz Coelho, destacou que a iniciativa tira o Judiciário de dentro das quatro paredes e o leva à escola. Segundo o magistrado, a ação mostra que o Poder Judiciário está envolvido com a comunidade. “Ações como estas têm o apoio do presidente do TJGO e atende a Meta 4, de 2011, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a Meta 6 do Planejamento Estratégico 2011/2013, do TJGO, que visa implantar programa de esclarecimento ao público sobre funções, atividades e órgãos do Poder Judiciário”, frisou.
“Este é um projeto que nos engrandece, que nos orgulha. Por meio dele, estudantes aprenderam como devemos nos comportar nas eleições e conheceram o papel de cada ente neste processo”, enfatizou o prefeito Edson Rosa. “Os alunos se envolvem num movimento de senso crítico, o que foi muito oportuno, sobretudo em ano de eleições. Ao discutir estes temas, os estudantes podem exigir mais qualidade de seus representantes”, pontuou.
Sobre o concurso
Durante a festa de encerramento do projeto A Justiça Vai à Escola nas Eleiçoes 2012 foi divulgado o resultado do concurso de redação sobre o tema Quem merece meu voto? Os alunos concorreram aos prêmios divididos em cinco categorias, de acordo com a série cursada pelos inscritos e abrange desde o 1° ano do ensino fundamental até as séries do ensino médio. Apenas no caso dos alunos do 1° ao 3° ano do ensino fundamental, o tema foi apresentado em forma de desenho. As redações foram corrigidas por uma comissão formada por profissionais liberais, estudantes universitários e servidores do Poder Judiciário. Os primeiros lugares de cada categoria levaram para casa um notebook; os segundos lugares, uma câmera digital e os terceiros colocados, uma bicicleta. Os vencedores nas três colocações receberam, todos, ainda, um kit com livros literários e troféu pela participação no concurso.
Melhoria no relacionamento
“O programa pode ser considerado como um suporte de relacionamento entre pais e filhos, além facilitar na comunicação familiar”, salientou Iolene de Fátima Castro Vilela, diretora do Colégio Estadual E. Previsto de Morais. Há mais de vinte anos na eduação, a diretora ressaltou que a resposta dos pais e professores serviu como estímulo para incentivar os alunos a participarem desta segunda edição do projeto. “Foi possível perceber que realmente podemos contribuir para a melhoria do relacionamento entre os pais e filhos e para o crescimento e fortalecimento da sociedade. Tive casos de pais que me procuraram para falar que os filhos estão mais estimulados em casa”, afirmou. Segundo ela, por meio de depoimentos dos estudantes que participaram do programa se percebeu a transformação no relacionamento em casa. “O programa, de fato, serviu como incentivo para esses pais participarem mais da educação dos próprios filhos”, finalizou Iolene.
A coordenadora da Escola Municipal Ana Rosa de Jesus, Keila Alves Lopes Rodrigues, contou que a primeira edição do projeto foi um sucesso e obteve pontos positivos tanto para os professores quanto para os alunos. De acordo com ela, muitos alunos mudaram os seus comportamentos e passaram a rever suas posturas e a forma de agir. “O cidadão se sente distante da Justiça porque não conhece seu funcionamento. E as crianças têm um papel fundamental, pois elas são multiplicadoras do conhecimento que adquiriram”, afirmou.
Pequenos e Conscientes
As irmãs Hevilyn Leite da Paixão, 10 anos, e Émily Leite da Paixão, 5 anos, já sabem o que é certo e errado. “Sei que não posso furar a fila”, disse a pequena Émily. Já a irmã mais velha lembrou que apesar de não poder votar já aprendeu que o voto tem que ser limpo e já disse para a sua mãe que quando for às urnas ela precisa ser consciente. “Todo dia chego em casa e falo para ela o que aprendi na escola. E as vezes explico tudo de novo para minha irmã”, falou Hevilyn. Aos 9 anos, Laura Joaquina Passos Pinto nunca pensou que fosse conhecer um juiz de perto. “Ele (Thiago Castelliano) foi à minha escola e falou do papel do Poder Judiciário, o que um juiz eleitorial faz”, disse sorrindo.