Associação dos Magistrados do Estado de Goiás

Juiz chora, sorri, sofre...

Autor: Jesseir Coelho de Alcântara, juiz de Direito e professor


Recentemente acompanhamos o drama de um colega magistrado federal que estava na presidência de um processo criminal e pediu seu afastamento do caso sob a alegação de que estava se sentindo ameaçado. Com certeza não se sentia confortável e seguro para dirigir o feito de enorme repercussão nacional. Ele recebeu total apoio das associações de classe e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) diante do nefasto quadro apresentado. Pelo menos esse amparo chega, mesmo que capenga, nessas horas cruéis. Muitas vezes o juiz é um solitário e um ermitão e só é lembrado nesses momentos fatídicos.


Alguns entendem que esse revés faz parte da profissão do julgador. Muito embora eu nunca ter sido ameaçado, penso que ninguém tem obrigação de colocar a cabeça na guilhotina, fruto da promessa de um mal que poderá advir oportunamente. O juiz é bem remunerado para trabalhar muito, não para sofrer infortúnios ou ser enterrado como herói. Evidente que ele passa por atribulações.


Acredito que somente quem sofre uma ameaça, mesmo que velada, tem condições de aferir em seu íntimo o que isso pode representar para sua alma.


Ora, juiz é um ser humano como qualquer outro mortal. Quem se aventura a ser super-homem pode se dar mal e quebrar a cara. De consequência, o magistrado deve ter vida social normal. Nada impede que ele participe de festa, jogue futebol, visite amigos e familiares, frequente academia para cuidar de seu físico, torça para um time de futebol, etc. Claro que ele não pode se olvidar de que necessita laborar com afinco: julgar rapidamente os processos, presidir audiências com diligência, ser cortês com as partes e seus advogados, não ter a chamada “juizite” (doença crônica que afeta o magistrado que se julga mais poderoso que Deus), e acima de tudo ser humilde, porquanto pelo texto bíblico ela precede a honra. Deve ser simples como a pomba, mas astuto como a serpente para não ser um tolo.


Dessa forma, conclui-se que o juiz, seja ele federal, estadual ou trabalhista, como ser humano e não de outro planeta, um extraterrestre, participa das vicissitudes desse mundo tenebroso e mal e, como consequência, pode sorrir, pode chorar e pode sofrer..


Artigo publicado originalmente na edição de 14 de agosto do jornal O Popular