Associação dos Magistrados do Estado de Goiás

O desempenho de um magistrado

Autor: Orimar de Bastos, Juiz de Direito aposentado


Existem no Judiciário coisas quase que impossíveis. Digo quase que impossíveis, porque militei em seu seio e sei bem quando de disposição possui um magistrado para despachar e julgar processos.


Pois bem: aqui em Caldas Novas existe um magistrado que já escrevi ao seu respeito, pelo seu alto tirocínio e por ser um dos meus diletos leitores destas mal traçadas linhas aqui do DM, que é o Dr. Alessandro Luiz de Souza.


Dias destes, percorrendo os corredores do Fórum para acompanhar andamento de processos meus, me vi em uma situação das mais incômodas. Precisava de que o referido magistrado despachasse um dos meus processos, mesmo sabendo de sua ligeireza e presteza em desvencilhar logo dos feitos que lhes chegam às mãos.


Apertei a escrevente pedindo Vênia para que fosse encaminhado ao Dr. Alessandro o meu feito, pois necessitava de que este pronunciasse a respeito do meu requerimento.


E esta, das mais solícitas, me respondeu:


- Dr. Orimar, o senhor já observou que o Dr. Alessandro não esta tendo tempo quase nem para respirar? É audiência criminal o tempo todo e este vai até quase às oito horas da noite.


E olhe, só no mês de maio este despachou mais de que muitos juízes e quiçá, mais do despacho de alguns juízes juntos.


Saí de lá pensativo. Como possuo a faculdade de entrar no site do Tribunal de Justiça, quando necessito de ver andamento de algum processo, tive a curiosidade de observar a produção do meu dileto magistrado Dr. Alessandro.


Confesso,meus queridos amigos e leitores, fiquei atônito, pois só no mês de maio deste ano, este magistrado ao qual devo tirar o chapéu, proferiu 5.839 (isto mesmo, cinco mil, oitocentos e trinta e nove) atos dentro de processos, o que significa, mais de 265 atos diários, computando os dias uteis do mês, que são vinte e dois.


Tal confirmação deve estar na estatística da Corregedoria de Justiça, que acompanha o desempenho de todos os magistrados do Estado, chamando a atenção, por vezes, do fraco desempenho de alguns.


Fiquei estarrecido, porque fui magistrado e sempre acreditei que trabalhava muito, mas o desempenho do Dr. Alessandro me deixou confuso e inquietante. Tal moço, se continuar desta maneira, qualquer hora “estoura”, pois não existe nenhum ser humano que resista tanta carga de trabalho. Já o aconselhei a diminuir o seu ímpeto, mas estecontinua da mesma maneira. Está respondendo por três varas aqui em Caldas Novas e ainda pela comarca de Corumbaíba. Será que o Tribunal não observou que precisamos de mais juízes aqui em Caldas Novas e ainda, de abertura de mais Varas?


Na verdade, a cidade hoje vive em um clima de cidade grande com todos os vícios destas metrópoles, com a criminalidade grassando por ai a fora, e um movimento processual quase igual à capital.


Esta minha crônica, não é de elogio a um magistrado cumpridor de seu dever, e, acima de tudo, gosta de trabalhar.


Mas é mais um alerta ao Poder Judiciário, para que se procure minimizar a movimentação de magistrados, olhando com mais carinho para nós aqui das “aguas quentes”, porque a temperatura está ficando muito mais quente que as nossas águas e este bom moço, se continuar com esta correria, pode chegar a uma exaustão, debilitando seu corpo e sua mente e nós de Caldas Novas, bem como Goiás, poderá perder um grande magistrado.


Alerta, pois, senhores dirigentes do Tribunal de Justiça. Olhe com carinho para nós aqui e muito mais com o trabalho insano do Dr. Alessandro, porque não quero que este fique afastado do seu dever, que desempenha muito bem, e quem perderá será o Poder Judiciário em si. E escute bem, meu dileto magistrado Alessandro, ponha um freio nesta sua correria, ande, pelo menos, em 80 quilômetros por hora.


Orimar de Bastos é juiz de Direito aposentado, advogado militante em Caldas Novas, membro da Academia Tocantinense de Letras, ocupante da Cadeira n° 33 e membro da Academia de Letras e Artes de Piracanjuba-Go e Cidadão Caldasnovense.