Cerca de 700 mil pessoas devem ficar sem assistência judiciária no interior do Amazonas, onde o Tribunal de Justiça do Estado vai desativar 36 comarcas. A estimativa é do próprio presidente do TJ, desembargador João Simões, que comunicou a juízes do interior, na quinta-feira, o plano de reestruturar o setor.
Pelo plano, as 36 comarcas – de um total de 59 – serão agrupadas em 14 cidades. Hoje, 24 comarcas já estão sem juiz, por falta de verba. No final de março, o site do TJ afirmava que a desativação das comarcas seria "adiada temporariamente", até que o governo do Estado se pronunciasse sobre a complementação de mais R$ 100 milhões por ano ao repasse do Judiciário. Na sexta-feira, o desembargador anunciou que falaria do assunto na segunda. Ontem, no entanto, mudou o discurso e avisou que não teria nada a comentar.
O governador Omar Aziz (PMN) também informou que não tem nada a dizer, por entender que extinção ou criação de comarcas é assunto do Judiciário. O governo estadual, explicou Aziz, "faz sua parte, que é repassar o valor destinado àquele poder". No ano passado, o repasse ao Judiciário foi aumentado de 6,5% para 7% do orçamento, chegando a R$ 334 milhões.
‘Arbitrário’. Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude (ABMP), Luis Cláudio Chaves – também juiz da comarca da Manacapuru – a decisão "é absurda e arbitrária" e foi tomada "sem qualquer consulta ou discussão com os juízes". Para ele, "a desculpa de fazer economia é irreal", pois não há como demitir juízes e na maioria das comarcas quase nunca há funcionários alem deles: "Na minha comarca estou eu e um só funcionário, o resto é pago pela prefeitura".